A caixinha de música
A bailarina está em palco. Saia púrpura. Sapatilhas de ponta. Na ponta dos pés. E ela dança só. Gira e [re]gira e torna a girar. Incansável, satisfaz o olhar da criança.
A musiquinha uníssona invade o quarto e o mundinho que se esconde atrás dos olhos castanho-mel.
A imaginação flui além-ar, além-mar, além-além. Não há nada além-além. Há o vazio, mesmo assim, a criança imagina o vazio.
- Mesmo sendo vazio o vazio não é vazio – pensa. - Pois ele existe. Ele tem cor [ou não?].
Se tem cor não é vazio, afinal a cor pode ser concreto e pode ser abstrato e mesmo o abstrato não é vácuo, porque existe, mesmo que oco.
No oco vale tudo: serpentes engolem elefantes, mlheres viram sereias, sapos e bodes viram príncipes, enfim, o tudo vira nada, o nada vira tudo e... cria-se, inventa-se.
Peraê!? Se vale tudo, então vale bailarina se apaixonar?
E a bailarina segue seu infindável girar.
- Mas ela parece tão triste, apesar de dançar. Está só. A bailarina está só. Ela dança na solidão.
Gira: na solidão.
Ela e seu reflexo no espelho que nada mostra, além de imagens já mostradas e palavras já proferidas.
Gira: na solidão.
Ela e seu reflexo no espelho que nada mostra, além de imagens já mostradas e palavras já proferidas.
Mas lá no fundo parece que o espelho mostra o interior. A bailarina quer se esconder, apesar de achar bonita a imagem que reflete, porém ela enxerga além e lembra que já amou:
- Um soldadinho de chumbo. Suspira a criança de olhos alegres.
- Um soldadinho de chumbo. Suspira a criança de olhos alegres.
Ela corre, vai até o quintal e trás para a bailarina da caixinha de música um soldadinho de chumbo.
A ilusão recomeça, a imaginação flui, o vazio é preenchido e mais uma história de amor é [re] contada, sem palavras, pela criança pura e ingênua dos olhos castanho-mel.
10º noite não dormida de outubro de 2010
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